quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Marquinhos, Caíques e Rafaéis


Na manhã de hoje tive uma visita ilustre aqui em casa: crianças sempre são bem vindas. Elas nos contam as verdades da vida. E como citei, hoje foi um dia de escutar verdades de uma delas.
Marquinho, 12 anos, morador de Mauá, gosta de dançar break! Filho de mãe analfabeta e pai segurança.
As oito da manha, me pego sob o olhar sábio de quem ainda não viveu, mas já sabe de algumas coisas. Particularidade de quem nasce e cresce na periferia. A realidade já bate à porta nos primeiros dias de vida.
Marquinho não é diferente. Gosta de Akon e Racionais (que a mãe logo chia quando rola o CD. Ela manda tirar na hora e “colocar o de crente que ela gosta”). Fez um show dos Rebeldes num “dia de domingo” e agora está montando outro, este agora só de break.

Gosto de observar as pessoas, e mais intrigante ainda é observar criança, sem os vícios adultos, escudos, barreiras, proteções, sem tudo isso. E como é grande a diferença de uma criada na “perifa”, e outra criada em apartamento, classe média. Intrigante! Moleques como Marquinho e Caíque (um outro amiguinho de 6, também de Mauá) parecem já ter a malícia da vida, a malandragem que é preciso pra sobreviver na selva. Enquanto outros da mesma idade, como meu irmão por parte de pai, Rafael, que vivem trancados, jogando vídeo game, não têm preparo pra isso ainda. Tudo isto é meio óbvio! Mas a questão é: o que é certo pra uma criança? Saber as verdades que as cercam logo nos primeiros anos, ou viver em um mundo de ilusão, da escola pra casa, MSN, jogos virtuais, carência suprida por coisas materiais?

Seria bom um meio termo, claro, mas ele não existe mais. Acho que a minha geração foi uma das ultimas a viver este tipo de coisa, os dois lados da moeda, molecada da rua, a maloquerada mais velha, skate, taco, exploração de terreno vazio, depois escola, inglês, família. Os pais não deixam mais seus filhos saírem pra rua. Hoje em dia, mal se conhece a vizinhança. Proteção desmedida. Por outro lado, já se deparar com os percalços da vida periférica logo ali, no centro de convivência que a prefeitura montou na sua esquina, também não creio que seja muito bom.

Esta diferença sempre me intriga. E me entristece o fato de não termos mais crianças que apenas queiram ser crianças. Por enquanto faço o que me cabe: converso com elas. Fiz uma coletânea pro Marquinho dançar. Já pro meu irmão, uma dose de rua resolveria.
=/

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